quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Cadeado

Assim que eu imagino: Um molho de chaves imenso, transbordando cores, tamanhos e curvas. No meio do redemoinho, algo brilhando diferente, quase com uma esperança de sair de dentro daquela complexidade. Mas logo volta a mergulhar nela com 7 cabeças e desaparecer entre aqueles pequenos objetos.

Quando aquele brilho volta a aparecer, vejo um cadeado. Fechado, trancadado, lacrado, escondido. O que um pequeno cadeado faria no meio daquele molho de chaves? Obviamente, esperando por uma delas. Mas, elas o queriam? Alguma chavezinha queria libertar aquele cadeadinho pequeno, porém brilhante, que vagava ali no meio, quase sem esperanças de tanto afundar e voltar na maré dourada e prata com pingos coloridos?

Havia tentativas: uma chave quadradinha de corzinha amarela, uma rosa com detalhes em círculos, uma preta, uma laranja, uma enferrujada, alguma grande demais, outra pequena... Mas nunca aquela chave que o libertaria.

Não perdia as esperanças. Experimentava. Experimentava uma, outra. Algumas serviam, mas não o conseguiam abrir. Algumas mal entravam e algumas até giravam um pouco, mas na hora mesmo, escorregavam, fugiam. Algumas foram boas, algumas más. Algumas acariciavam, algumas machucavam. E ele esperava pacientemente.

Até que uma chavezinha quebrada, com receio, tentou. Encaixou lentamente, devagar, até ocupar grande parte do cadeadinho. Girou lentamente, como se desse uma pirueta no meio de uma dança. E, como bom cavalheiro, o cadeado a abraçou, e surpreendeu-se quando viu-se aberto. Livre. E junto àquela chavezinha.

Agora ele tinha certeza: não deixaria mais ela ir embora. Aquela sensação de liberdade era ótima: libertou-se de si mesmo, da prisão da solidão. Deu lugar ao encaixe perfeito de sua existência, deu lugar a algo que lhe fez abrir sua parte mais íntima e profunda. Deixou de viver só.

Completou-se.

Penso que o amor é um cadeado, fantasiado de coração. Ele só espera pela chavinha pra se abrir e pra se contentar, pra querer só ela, para abrir os braços pra dançar infinitamente. O coração de alguém é a chave para o seu cadeado, para o seu coração.

O meu coração é um cadeado. Aberto. Pela sua chavinha.

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